quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Santos missionários e missionários santos

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
Data: terça-feira, 25 Outubro 2011

No Dia Mundial das Missões, celebrado no domingo passado, dia 23, o papa Bento 16 proclamou “santos” dois grandes missionários modernos, que também foram fundadores de Institutos Missionários de Vida Consagrada: o bispo italiano Dom (São) Guido Maria Conforti, fundador dos Missionários/as Xaverianos/as, que se dedicam muito especialmente às missões “ad gentes”; e o padre italiano (São) Luís Guanella, fundador das Congregações dos Servos da Caridade (Religiosos) e das Irmãs Filhas de Santa Maria da Providência, dedicados especialmente às pessoas com deficiência.

Na Arquidiocese de São Paulo, estão presentes e atuam tanto os Missionários Xaverianos, como os “Guanellianos”. Seu carisma enriquece a nossa Igreja Particular, ajudando-a a ter sempre diante dos olhos o vasto horizonte missionário, com suas múltiplas necessidades e desafios. E agora compartilhamos a alegria profunda dessas congregações religiosas missionárias, louvando e agradecendo a Deus pela vida santa de seus fundadores, elevados à glória dos altares, e pelo serviço missionário que seus “filhos” e “filhas” prestam na Igreja. Deus seja louvado!

Santos são aqueles que estão em comunhão com Deus, vivem intensamente e expressam nas ações a consciência de serem filhos e filhas de Deus, deixando-se conduzir na vida pelo Espírito de Deus, que é o espírito “de santidade”. O povo entende bem, quando diz que “o santo está mais perto de Deus”... Em vida, ou após a morte, os verdadeiros santos atraem para Deus. Eles compreenderam bem aquilo que significa a altíssima vocação e dignidade humana, ou seja, ser e viver como filhos e filhas de Deus.

A santidade tem uma clara e inseparável conotação missionária: quer se dediquem a obras de caridade, nas suas formas mais variadas, quer sejam pregadores do Evangelho, proclamando as maravilhas de Deus, sua sabedoria e seus caminhos para a humanidade, quer sejam contemplativos e vivam mergulhados no Mistério Santo, levando irmãos consigo para fazerem o mesmo, quer sejam pastores do Povo de Deus, ou pessoas que vivem “no mundo”, ocupados com as tarefas do dia a dia, na família ou nas responsabilidades sociais, quer, ainda, sejam mártires heróicos do Evangelho de Cristo: todos os santos verdadeiros são pessoas de Deus e atraem para Deus. São missionários.

Portanto, não é por acaso, nem por mera coincidência que o papa proclamou a santidade de dois grandes missionários justamente no Domingo das Missões. Diante da inegável urgência missionária em nossos tempos, poderíamos ser levados a ações superficiais de propaganda, que conseguiriam, talvez, atrair muitas pessoas em torno de nós mesmos e de nossas ações espetaculares... Mas por pouco tempo. No entanto, a Igreja missionária é chamada, antes de tudo, a colocar-se em profunda sintonia com Deus e com Jesus Cristo, seu divino fundador. E isso requer a “conversão pastoral e pessoal”; requer “partir novamente de Jesus Cristo e de seu Evangelho”, como nos indicam as Diretrizes da CNBB. A missão da Igreja tem a finalidade de “atrair para Deus” e de proporcionar o encontro pessoal e uma profunda experiência de vida com Deus, conforme o Evangelho.

Nos momentos de maior crise da história da Igreja, sempre nasceram iniciativas missionárias renovadoras; e seus fundadores eram santos. Também em nossos tempos, a Igreja precisa espelhar-se e inspirar-se nos missionários santos. A ação missionária não consiste num projeto de propaganda consumista, nem numa ação proselitista, para conquistar adeptos a qualquer custo. Bem lembrou o papa Bento 16 na missa de abertura da Conferência de Aparecida: “a Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo atrai todos a si com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que, associada a Cristo, cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor”.

Depois da Conferência de Aparecida (2007), passamos a ter uma consciência mais clara de que precisamos fazer uma profunda “conversão pastoral e missionária”, para sermos uma Igreja “em estado permanente de missão”. Mas isso não acontece sem a conversão a Deus e ao Evangelho de Cristo. Ser cristãos, chamados à santidade, e ser missionários, são coisas inseparáveis. Que os santos missionários nos inspirem e ajudem!

Publicado no jornal O SÃO PAULO, edição de 25/10/2011

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